A Lenda do Povo de sub-Distrito Laga/Distrito Baucau/Timor Leste
Livro
: O Oriente de Expressão Potuguesa
Autor : António de Almeida
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O sal de lagoa de Laga |
O sal de
lagoa de Laga tem de duas curiosas lendas a transformação de água da lagoa,
doce inicialmente em agua salgada, e o próprio aparecimento da lagoa.
Segundo os Nativos
de Laga, há muito tempo um búfalo, quando ia ser sacrificado em estilo ou cerimonialmente pela agente da
povoação do Sama Lálu (suco de SaéLári), fugio para a lagoa ; ao mergulhar na água desapareceu
para sempre, ficando o liquido salino !....não fala esta lenda dos motivos que
levavam à morte do búfalo nem as razões que de terminaram posteriormente o
emprego do sal do pequeno lago.
A outra
lenda é mais elucidative e etnograficamente iteressante. No tempo dos avós (ou
de parentes ainda mais antigos) dos actuais povos de Laga __ que para aqui
vieram de Larantuka (ilha da Flores/Indonesia) vivia uma princesa com seu pai,na
povoção que ora dista um quilómetro da sede do posto administrative. Era filha única
e tão guardada que não podia sair à rua, não fosse apaixonar-se por algum homem
que desagradasse ao pai.
Certa noite,
um mancebo descido do céu entrou por abertura do tecto da casa e dormiu com a
rapariga, sem o pai se ter apercebido da aventura, na segunda noitetudo se
passou como na primeira, mas já o mesmo não aconteceu na Terceira visita do
homem misterioso, em virtude do pai da princesa ter visto luz no quarto dela
___ali aparecida uns minutos antes conforme aviso do amante, feito ao sair da noite
precedente, e destinada a chamar a atenção da sua presence.
Surpreendido,
foi bater à porta do quarto da filha a perguntar porque tinha aluz acesa a hora
tão tardias, ao que ela respondeu prontamente “a luz luz é de que um homem,
vindo do céu, esta aqui, já dormiu comigo três vezes e quer receber-me em
casamento”.
Irritado, o
pai entrou e dirigiu-se imediatamente ao mancebo, inquirindo sobre a sua origem
e idoneidade. “Venho do céu”, declarou o rapaz. “ não perciso dessa espécie de
marido para a minha filha”, replicou-lhe rudemente. Sem se perturbar, o jóvem acrescentou,
“quero casar com a sua filha”.
Perante esta
séria e categorical afirmação, o pai da princesa serenou e disse, “esta bem,
prepare o seguite barlaque (dote
nupcial). Seis boas espadas de Macássar (Celébes), doze cavalos e doze búfalos,
e devera entregar ainda várias jóias de valor___crescentes, luas e pulseiras de
ouro e prata, codões de mutiçalas
(colares de coral). Sem tal barlaque, não consentirei na realização do
matrimónio”.
O
pretendente à mão da rapariga afirmou “ O meu pai tem no céu tudo o que me
exige, porém nada posso trazer para aterra. No entanto, peço-lhe que amanhã à
tarde vá aquele local (que indicou –ali fica hoje a lagoa salgada), onde
estarei para falarmos sobre este assunto”.
Nesse
mesmo dia, o pai da jovem partiu para o sitio escolhido, acompanhado de alguns
criados e de um cão de caça, animal que lhes permitiu agarrar um gato selvage e
um veado, mamíferosestes logo cozinhados e comidos com grande satisfação de
todos.
Ao invest do que
prometera, o mancebo não compareceu a meu da tarde, ao iniciarem o regresso a
casa, o pai da princesa deu conta da etranha planta carregada de frutos amarelos (táu loco, em Macassae)---espécie de que ainda nenhuma pessoa se
tinha apercebido ----, colheu dois deles com os quais patrão e criados se
entretiveram a brincar durante a viagem. Entretanto, um das frutos caíu no chão
e abandoram-no, levando o outro para o palácio, onde já se encontrava o homem
do céu, que se desculpou da sua falta. O jovem perguntou sem demora se não
trouxeram nada do campo, ao que o pai da princesa respondeu “apenas este fruto”,
contando-lhe como o encontrara.
O
mancebo pegou no fruto, e qual não foi a estupefacção do seu interlocutor
quando o viu transformer-se em muitas e variadas jóias de ouro !...
Sem
dar tempo ao pai da namorada de falar, o rapaz interrogou-o com orgulho e certo
de que a sua pretensão teria bom deferimento “O meu sogro não se apercebeu de
que no lugar onde esteve à minha espera há mais alguma coisa com que eu possa
fazer barlaque” (contratar o
casamento, satisfazer o dote) “ O que ?”
ingiriu aquele, cheio de ansiedade, “não vi lá nada de interesse”, concluiu.
O
homem do céu, vaidosamente, declarou “Há, sim senhor, mas o meu sogro não soube
ver ! Volte amanhã ali, na planície entrará uma lagoa cheia de água, dentro da
qual, no fundo, se contém uma coisa muito bonita, branca e brilhante. É sal”.
Deslumbrado
mas algo duvidoso das palavras proferidas pelo mancebo, o pai da rapariga mal
dormiu durante a noite e, na manhã seguinte, dirigiu-se ao sítio indicado. Realmente
lá se encontrava um pequeno lago, em que entrou e colheu sal !
Voltou
para casa, onde o aguardava o futuro genro, a quem mostrou algum sal. “É com
isto que eu farei o barlaque”, reafirmou o rapaz. E, decorridos poucos dias,
celebravam-se as núpcias da princesa e do homem do céu, com a pompa devida à
categoria dos nubentes, indo o novo casal viver no palácio dela.
Nessa
tão recuada época, Gássi Líu (Gássi Líu em lingua Macassae - o sal da lagoa)
pertencia ao sogro do mancebo celestial e só os seus patrícios desfrutavam o
privilégio de explorar o sal da lagoa. Ivc.
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